O clique é uma vírgula da conversa.” Parece simples, e para o fotógrafo paulistano Jairo Goldflus, de 45 anos, realmente é. Com 25 anos de profissão, a maior parte deles dedicados à publicidade, ele tem a segurança para dizer que uma fotografia se define mais no antes do que propriamente no momento em que a imagem é congelada. Há cinco anos, quando começou a sentir que a publicidade estava começando a perder a graça, decidiu fazer retratos para ele próprio.
Jairo Goldflus lança livro com fotografias de personalidades
O livro “Público” é um livro sobre a arte do retrato e reúne cerca de 150 nomes,
como Chico Buarque, Philippe Starck, Christian Louboutin, Pelé, Gisele Bündchen
e Fernanda Montenegro. Ele oscila entre a linguagem mais clássica, do portrait
em branco e preto no cenário de fundo infinito, a retratos mais produzidos e
teatrais, caso da foto em que Cauã Reymond aparece vestido como a roqueira
Courtney Love. Entre os ensaios prediletos do fotógrafo Jairo Goldflus estão os
dois que fez com a sua mulher, a atriz Gabriela Duarte, e alguns que realizou de
maneira bem improvisada, como a divertida sessão com Marcos Caruso, na qual deu
ao ator 15 chapéus e o desafiou a criar 15 personagens. Do “A”, de Antonio
Fagundes, ao “Z”, de Zeca Pagodinho, estão retratados, em imagens quase todas
inéditas, figuras públicas como Chico Buarque, Ronaldo “Fenômeno”, Regina Duarte
e Sebastião Salgado.
O fotógrafo paulistano Jairo Goldflus, 45 anos, já fotografou ao longo da carreira um bom número de artistas e figuras públicas para campanhas publicitárias e editoriais de moda. Sempre reservou um clique para si. E agora 150 deles estão reunidos no livro Público (Editora Livre, 220 páginas,
Zero Hora – O senhor começou este projeto para ter imagens em seu estúdio das pessoas com quem havia trabalhado. O que o levou a transformar o material em livro?
Jairo Goldflus – Sempre trabalhei com publicidade e editorial, nunca fazia coisas para mim. Há uns oito anos, comecei a fotografar quem trabalhava comigo para ter uma imagem para a minha parede. Meu estúdio é um galpão, então enchi uma fileira na parede com as imagens, enchi duas, e quando vi, a parede estava lotada. E as pessoas que vinham trabalhar aqui gostavam muito, diziam: “Nossa, quero estar nessa parede”. Aí começaram a me cobrar: “Por que não faz um livro?”. E aí decidi fazer, mas queria mais um tempo ainda para correr atrás das pessoas que, tecnicamente, não viriam trabalhar comigo por não fazerem publicidade ou editorial. Comecei a convidá-las para vir ao meu estúdio. Essa segunda parte do processo levou três anos.
Jairo Goldflus – Sempre trabalhei com publicidade e editorial, nunca fazia coisas para mim. Há uns oito anos, comecei a fotografar quem trabalhava comigo para ter uma imagem para a minha parede. Meu estúdio é um galpão, então enchi uma fileira na parede com as imagens, enchi duas, e quando vi, a parede estava lotada. E as pessoas que vinham trabalhar aqui gostavam muito, diziam: “Nossa, quero estar nessa parede”. Aí começaram a me cobrar: “Por que não faz um livro?”. E aí decidi fazer, mas queria mais um tempo ainda para correr atrás das pessoas que, tecnicamente, não viriam trabalhar comigo por não fazerem publicidade ou editorial. Comecei a convidá-las para vir ao meu estúdio. Essa segunda parte do processo levou três anos.
ZH – O livro mescla retratos minimalistas e produções com figurino, em que o fotografado é convidado a interpretar um personagem. Essa ideia do personagem surgiu para as fotos ou veio incorporada a coisas que o senhor já estava fazendo na sessão fotográfica que estava contratado para fazer?
Goldflus – O critério era não ter critério. Este livro está saindo sem patrocinador, sem Lei Rouanet, porque eu queria fazer o livro do meu jeito do começo ao fim. O que eu queria, inclusive dos retratos mais simples, era pegar um movimento de olhar, de sorriso, algo diferente, não simplesmente fotografar essas pessoas da maneira como elas são vistas normalmente. No conjunto, essas imagens não seriam editadas comercialmente. Cada caso foi um caso.
Goldflus – O critério era não ter critério. Este livro está saindo sem patrocinador, sem Lei Rouanet, porque eu queria fazer o livro do meu jeito do começo ao fim. O que eu queria, inclusive dos retratos mais simples, era pegar um movimento de olhar, de sorriso, algo diferente, não simplesmente fotografar essas pessoas da maneira como elas são vistas normalmente. No conjunto, essas imagens não seriam editadas comercialmente. Cada caso foi um caso.
ZH – Houve alguma situação em que essa caracterização não funcionou e o senhor precisou partir para um retrato mais simples?
Goldflus – Houve troca de personagens, eu diria. O Marcelo Tas, por exemplo. Eu estava com uma determinada ideia, e ele me lembrou que foi aeronauta, fez três anos de academia de voo. Então, em cima disso já comecei a trabalhar.
Goldflus – Houve troca de personagens, eu diria. O Marcelo Tas, por exemplo. Eu estava com uma determinada ideia, e ele me lembrou que foi aeronauta, fez três anos de academia de voo. Então, em cima disso já comecei a trabalhar.
ZH – Muitos fotógrafos falam de como conseguir uma imagem que seja fiel ao retratado mas que mostre algo novo. Como o senhor trabalha essa relação?
Goldflus – Há muitos métodos, você escolhe aqueles com os quais mais se adapta. No meu caso, gosto de conversar, gosto de falar. Eu sou o primeiro a chegar no estúdio, recebo a pessoa, converso com ela, e nesse momento já começou o trabalho fotográfico. O fato de não estar clicando não significa que não estou pensando na imagem. A minha função é fazer dessa sessão fotográfica “o dia da noiva”, criar um ambiente confortável para que, quando a pessoa estiver no set, eu já saiba o que quero. Demoro uma hora e meia para preparar a pessoa para o set: conversamos, sirvo um café, um chá, acertamos o figurino. Na hora do clique, levo uns cinco ou 10 minutos, não passa disso. Quero naturalidade, quero aquele sorriso e aquela montagem de verdade. Quando a pessoa começa a repetir os gestos, já começa a não funcionar. Por mais que a pessoa esteja dentro de uma caracterização exercendo um personagem, quero que aquilo seja único. Cabe a mim saber o momento. A função do fotógrafo é saber o momento de dar a ferroada para tirar essa essência.
Goldflus – Há muitos métodos, você escolhe aqueles com os quais mais se adapta. No meu caso, gosto de conversar, gosto de falar. Eu sou o primeiro a chegar no estúdio, recebo a pessoa, converso com ela, e nesse momento já começou o trabalho fotográfico. O fato de não estar clicando não significa que não estou pensando na imagem. A minha função é fazer dessa sessão fotográfica “o dia da noiva”, criar um ambiente confortável para que, quando a pessoa estiver no set, eu já saiba o que quero. Demoro uma hora e meia para preparar a pessoa para o set: conversamos, sirvo um café, um chá, acertamos o figurino. Na hora do clique, levo uns cinco ou 10 minutos, não passa disso. Quero naturalidade, quero aquele sorriso e aquela montagem de verdade. Quando a pessoa começa a repetir os gestos, já começa a não funcionar. Por mais que a pessoa esteja dentro de uma caracterização exercendo um personagem, quero que aquilo seja único. Cabe a mim saber o momento. A função do fotógrafo é saber o momento de dar a ferroada para tirar essa essência.
ZERO HORA
Mariana Ximenes foi uma das personalidades fotografadas para o livro "Público" de Jairo Goldflus
Marília GabrielaJairo Goldflus
A top Isabeli Fontana misturando glamour e uma certa dose de enfado.Jairo Goldflus
Grazi Massafera ficou sexy num cenário meio art-décoJairo Goldflus
Gisele Bündchen posou para o livro depois de participar de uma campanha publicitáriaJairo Goldflus
Ubiratan Brasil - O Estado de S.Paulo
Os ídolos do fotógrafo Jairo Goldflus têm uma característica comum: sempre
buscaram explorar os desafios oferecidos por essa arte. O americano Irving Penn,
por exemplo, cuja assinatura se tornou clássica graças à elegância e ao
minimalismo, gostava de isolar seus modelos, tirando-os de seu ambiente natural
para registrar as imagens em estúdio, utilizando um fundo artificial. Era ali,
Penn acreditava, que se poderia capturar a verdadeira alma do sujeito, fosse um
modelo de moda ou o membro de uma tribo aborígine.
Antunes Filho. Gestos de encenador inspiram bela foto
O mesmo conceito é utilizado por Goldflus em seu livro Público, obra sobre a
arte do retrato na qual reúne 142 fotos, tiradas entre 2004 e setembro deste
ano. No foco, personalidades bem distintas, como Chico Buarque, Fernanda
Montenegro e Christian Louboutin. Ali, ele tanto segue a linha mais tradicional,
com fotos em preto e branco no cenário de fundo infinito, até retratos mais
teatrais, produzidos, como o que mostra Cauã Reymond vestido como a roqueira
Courtney Love.
"Um fotógrafo se torna algo maior quando consegue mudar conceitos estéticos,
linguagens e a forma de se comunicar", afirma ele, apontando, além de Irving
Penn, outros profissionais capazes de dar esse passo decisivo: Richard Avedon,
Yousuf Karsh e Sebastião Salgado, mestres da fotografia que trabalharam na
publicidade. "Cada um com sua linguagem conseguiu resultados
impressionantes."
Entre vários trabalhos, Jairo Goldflus notabilizou-se por um ensaio que fez
com a mulher, Gabriela Duarte, durante sua gravidez – ali, a gestação é vista
com delicada naturalidade. Também se destaca o improviso proposto ao ator Marcos
Caruso, que recebeu 15 chapéus e a incumbência de criar o mesmo número de
personagens com cada uma das peças. "O fotógrafo de retratos tem a função de
‘fazedor de climas’", acredita. "As pessoas chegam ao estúdio com múltiplas e
diferentes expectativas – cabe ao profissional conduzir ao caminho que sua
sensibilidade o guia."
Nesse sentido, Goldflus não segue a técnica do ídolo Irving Penn, que, para
conseguir imagens expressivas, fotografava o modelo incansavelmente, muitas
vezes durante horas, até que ele fosse forçado a baixar a guarda. "Uma imagem
nunca sai impunemente daquela pequena caixa preta, ela é feita, mesmo que
pequeno, de um momento de consentimento entre o retratado e o fotógrafo",
pondera Goldflus. "Sou um curioso, gosto de conhecer, ouvir, falar e trocar
pensamentos, fico muito mais tempo conversando que propriamente fotografando em
uma sessão, isto não significa que não estamos fotografando. Acredito que as
surpresas saem destes momentos de ‘lazer’."
O que faz de uma foto um grande retrato já provocou inúmeras discussões e
diferentes conclusões. Em 1859, o poeta e ensaísta francês Charles Baudelaire já
questionava: "Um retrato! O que pode ser mais simples e mais complexo, mais
óbvio e mais profundo?" Passaram-se os anos e outro francês, o filósofo (e
também fotógrafo) Jean Baudrillard desdobraria a máxima de Descartes ("Penso,
logo existo") ao formular o axioma "eu sou visível, eu sou imagem". Entre
distintas afirmações, o mais correto é pensar que o rosto, elemento essencial do
retrato e principal traço físico da individualidade, sempre foi visto como o
espelho da alma.
"Para mim, um bom retrato não reside apenas na sua perfeita execução técnica
mas sobretudo na possibilidade de entrar na essência do retratado, de atravessar
a superfície e chegar ao seu interior. Fotografar pessoas é muito mais
psicologia do que técnica", pondera Goldflus.
Por conta disso, ele elaborou uma cuidadosa estratégia para montar o livro,
formado, em boa parte, por imagens especialmente clicadas. Também não poupou
esforços, como viajar até Bruxelas, na Bélgica, para fotografar uma de suas
pianistas prediletas, a portuguesa Maria João Pires.
Em alguns casos, a estratégia exigiu perseverança e um punhado de sorte. É o
caso da imagem do navegador Amyr Klink, avesso a retratos – Goldflus passou anos
negociando até conseguir fotografá-lo, obtendo um belo retrato do aventureiro
coberto de neve. O curioso é que a foto consumiu apenas cinco minutos de
trabalho e foi realizada no estúdio do fotógrafo, na Vila Olímpia, em São Paulo.
Parafraseando um mestre da imagem, o francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004),
que dizia que, tal qual um inseto prestes a dar uma picada, o retratista não
pode demorar demais, Goldflus revela seu segredo: "Depois de anos de
experiência, para fazer um bom retrato hoje só preciso de uma hora de papo e
cinco minutos de fotografia".
Questionado sobre o uso do Photoshop, ele é taxativo: "A fotografia tem quer
ser auto explicativa e passar alguma sensação, seja ela qual for. Com ou sem
Photoshop".
Público
Autor: Jairo
Goldflus
Editora: Livre Conteúdo (238 págs., R$250)
O músico João Carlos Martins em foto do livro "Público", de Jairo Goldflus
Retrato do fotógrafo Sebastião Salgado feito por Jairo Goldflus,
Cintia Dicker, retrata por Jairo Goldflus
Cintia Dicker, retrata por Jairo Goldflus
O apresentador Fausto Silva, em foto do "Público", de Jairo Goldflus
O explorador Amyr Klink, clicado para o livro "Público", de Jairo Goldflus
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