Começou a pintar graffiti em 1998 em muros e
fabricas abandonadas, hoje visitando já muitas cidades
europeias e pintando em Portugal de norte a sul
conta com mais de 3500
pinturas sejam elas fames, bombings ou throwups.
Em 2006 abrir a sua própria loja dedicada exclusivamente
Ao graffiti.
Em 2007 estreou se no mundo da tatuagem, abrindo
o seu primeiro estúdio em 2009,
mudando-se para um estúdio maior em 2011, também
com uma linha de roupa de duas marcas americanas
“Seventh Letter” e Joker Brand.
E já são quatro o número de writers entrevistados aqui no Sobredotado e desta feita, Dexa é o nosso quarto elemento.
Writer do Porto é meramente impossível entrar no Porto e não nos deparamos com algum trabalho deste grande do graffiti português. Juntamente com Mr. Dheo e Oker formam a colectiva Bymalodja, muitas vezes aqui falada no vosso humilde site, graças às entrevistas a nós cedidas pelos os outros dois elementos.Com " um álbum sem fim" a percorrer no mundo do graffiti, Dexa é então o nosso novo elemento a entrar nesta colectânea que vem crescendo aos poucos. Obrigado ao Dexa pelo facultar desta entrevista, e sem mais demoras cliquem em Read more... e prossigam na leitura da mesma.
Sobredotado: Quem é o Dexa?
Sobredotado: Porquê Dexa?
Dexa: O nome Dexa não contem uma grande história, apenas surgiu depois de ter juntado quatro letras que no seu conjunto, ao serem pronunciadas, soassem bem. Nesse tempo o nome não era de todo o mais importante, queria pintar em todo o lado alguma coisa.
Sobredotado: Como te introduziste na área do graffiti?
Dexa: Comecei a pintar, ou melhor, fiz o meu primeiro graff em 1998/99, antes disso só uns tags na minha escola. Foi feito numa ponte que já não estava em funcionamento ao lado da mesma e a verdade é que foi feito no chão, já não me lembro o porquê de o ter feito mas foi assim.
Sobredotado: Nesses inícios da entrada no mundo do graffiti, quais eram as principais dificuldades com que te deparaste?
Dexa: Com toda a certeza deparo-me com mais dificuldades nos últimos anos do que nos primeiros, precisamente porque quando se começa, a diversão e o querer pintar frequentemente com muita gente está em primeiro lugar, não reparando nas falhas técnicas. Claro que se tem sempre dificuldade em dar traços certos ou fazer bons degrades mas é algo que com os anos se vai evoluindo. Existem depois outras dificuldades nomeadamente na fase de integração e compreensão do mundo do graffiti. Na altura que comecei a pintar, o graffiti no Porto era pouco, era novidade, comparando com Lisboa onde já se fazia muita coisa, daí os writers do norte criarem um ambiente mais descontraído e tranquilo entre quase toda a gente, o que tornava mais fácil a integração no meio, por isso calculo que hoje exista bastante mais complicações para quem se inicia.
Sobredotado: Pedimos sempre esta opinião aos nossos writers entrevistados. Arte e graffiti, são conceitos que andam juntos?
Dexa: Eu não gosto de catalogar o graffiti como essa “arte” que se fala, porque acho que é bem mais que isso, prefiro olhar como se fosse outra arte, uma mais pura. As pessoas com quem converso sobre este tema estranham o facto de eu dizer que não me identifico minimamente com a “arte”, mas como é lógico tenho um fundamento: o graffiti é absolutamente dirigido a uma parte da sociedade, todo o resto não o sabe classificar, procurando parecenças artísticas que são utilizadas por artistas tradicionais. O graffiti tem valores que na arte não existem, pois na “arte” tem mérito quem se julga de ‘original’ utilizando e criando as mais ridículas e vergonhosas obras para atingir esse fim, e pior, ninguém é capaz de questionar o porquê, simplesmente por acharem que na arte tudo é livre e relativo. No graffiti as coisas são bastante claras, ou se pinta bem ou se pinta mal, independentemente se seres original ou não. Usar o mundo real como galeria faz com que ideias como essas não sobrevivam, dai a força do graffiti ser tão grande e ao mesmo tempo própria, causando dificuldade à população para o compreender. Precisamente por ser tão claro é que uma grande parte das pessoas que em tempos pintaram, podemos vê-las agora em “artes” ou em musica, para assim puderem criar os seus filmes a vontade, dentro de uma galeria ou de um estúdio fechados ao mundo real. As pessoas não gostam que uma pintura tenha sido pensada e construída, gostam sempre que se crie uma ilusão à volta disso, daí uma boa entrevista como esta procura respostas sobre o trabalho de uma pessoa e não tentar criar ideias e filmes onde não existem.
Sobredotado: Quais são as tuas influências?
Dexa: As minhas influências vem de variadas culturas, mas posso dizer que a mais marcante vem da cultura americana, mais propriamente de Los Angeles, mas com um forte aperfeiçoamento europeu o que lhe dá um toque especial.
O lado europeu é a parte mais “limpa” e mais perfeccionista que falta um pouco à generalidade do graff americano.
O americano tem o lado mais puro e verdadeiro, que considero um mundo aparte do mundo do graffiti que se vê, lá faz-se graffiti, e não graffiti com detalhes pensados para agradar a quem não demonstra interesse, não se misturando com outras artes para que assim seja melhor aceite.
Desde muito miúdo que adoro a técnica da caligrafia.
Sobredotado: Lettering é talvez o estilo que exploras mais. Porquê essa preferência?
Dexa: Ao iniciar me no graffiti logicamente que o que me chamou mais a atenção foram os lettrings que ia vendo nas ruas, para mim as letras tem algo mágico nelas, a forma como as defines e traças consegues transparecer a pessoa que és, daí ficares muitas vezes preso a um bom lettring numa parede e achares que existem muitas diferenças de uns para os outros e não passa apenas pela qualidade.
Sobredotado: Qual é para ti o ponto de situação do graffiti em Portugal?
Dexa: O ponto de situação em Portugal tem duas faces, em questão de graffiti de uma maneira geral está a cair a pique dia após dia, os writers portugueses perderam o rumo, não sabem se querem pintar, se não querem pintar, não sabem se isto vale a pena se não vale.
Há uns bons anos atrás lembro me de ver uma crescente e positiva vontade de criar novas ideias, novas atitudes e mais do que tudo… novos graffs.
Hoje em dia o que se passa é que há um desprezo absoluto pelo graffiti por parte dos writers, já não há respeito, já não há metas a chegar, tudo passou a ser uma descontracção de sábado à tarde com amigos, deixou de ser algo construtivo e planeado com o objectivo de produzir uma boa e gratificante obra de qualidade.
Felizmente temos a outra face do graffiti, que são os writers que batalham todos os dias para manter o graffiti vivo, writers que a maioria das pessoas que pintam nem se quer imaginam o que já fizeram, o que fazem e o que ainda vão fazer.
São essas pessoas que fazem Portugal andar para a frente, o problema é que são tão poucas que não conseguem fazer com que o país saia de onde está, apenas conseguem levar consigo o nome de Portugal para que no estrangeiro as pessoas também saibam que existe graffiti em Portugal.
Sobredotado: Se pudesses mudar alguma coisa da street art em Portugal o que seria?
Dexa: Acho que a pergunta seria melhor: se eu pudesse mudar tudo em Portugal o que não mudaria? Portugal é um país pequeno, com pouca gente a pintar, é um país extremamente atrasado em relação a Europa, no graffiti e em quase tudo. A verdade é que aqui não é mau para o graffiti, as pessoas ainda são muito antiquadas mas ao mesmo tempo são fáceis de mudar, apenas é preciso ter convicção no que se faz e apresentar argumentos lógicos para isso. Temos writers portugueses que falam na polícia, que persegue, escuta, procura… mas acho que nunca devem ter olhado para o mundo, pois a polícia portuguesa não sabe distinguir um silver de um hall of fame, quanto mais seguir tags ou controlar internet e afins… se de facto isso existisse 70% paravam de pintar. Acho que tentam encontrar razões para lhes dar motivação para pintar, pensando que são mais procurados que o Bin Laden por terem feito meia dúzia de graffs. Por outro lado pensem: porque será que as pessoas que mais pintam em Portugal não têm esses problemas? Algo não está certo por aqui. Lá fora sim, existe polícia que está dentro do movimento graffiti, mas a polícia portuguesa teria que aprender muita coisa antes de tal situação se passar por cá. Além de que não existe necessidade disso em Portugal. Resumindo, o que eu mudaria em Portugal eram as mentalidades e valores que a maioria dos writers tem, talvez assim um dia Portugal possa ser um grande país de graffiti e que o sabe valorizar. Temos cá writers com um valor extraordinário, que se tivessem nascido noutro país seguramente dariam muito que falar.
Sobredotado: Qual é a principal motivação que tens para continuar a desenvolver a tua arte?
Dexa: A minha motivação é o facto de acreditar no que faço e acreditar que vale a pena, saber que ainda me falta fazer tantas coisas, falta-me evoluir tanto, falta pintar em tantos sítios com tantas pessoas, que é como se fosse um álbum sem fim, pois haverá sempre novos desafios e novas coisas para aprender. É uma viagem só de ida, ao qual nunca chegarás a um destino nem terás uma data certa para voltar.
Sobredotado: A tua identidade é algum segredo?
Dexa: Não é, nem nunca foi, é certo que não vão encontrar fotos da minha cara a pintar num facebook publicada por mim, mas já dei a cara muitas vezes, quem quiser saber quem sou não será difícil, prefiro que o que faço demonstre melhor quem sou do que a minha própria imagem.
Sobredotado: Na entrevista com o Oker, soubemos que pertences agora à crew Bymalodja. O convite surpreendeu-te?
Dexa: Deixei de representar crews a partir do ano de 2002, nunca mais fiz parte de nenhuma por não concordar com o funcionamento das mesmas cá em Portugal. Não digo que o convite para pertencer a ‘bymalodja’ me surpreendeu porque era algo que já tinha sido falado, e como já tínhamos pintado juntos tudo aconteceu naturalmente. Para mim uma crew só faz sentido quando as pessoas partilham minimamente das mesmas ideias sobre o graffiti, pois só assim funcionam bem juntos. Isso de pertencer a uma crew por causa deste ou daquele, só funciona com writers que por assinar a mesma crew pensam que tem o mesmo valor que eles, é esse um dos problemas da internet. Faz com que as pessoas consigam auto promoverem-se rapidamente e faz com que se iludam e achem que já podem crossar quem não deviam ou criticar tudo e todos. Na net todos somos os maiores e melhores, funciona um pouco como as galerias e estúdios, podemos mandar graffs para um site e as pessoas pensam: este gajo pinta muito, não sabendo que só tem os graffs que enviou. Infelizmente é algo que acontece muito hoje em dia. Neste momento a BMLDJ tem apenas 3 membros: Mr.Dheo é seguramente uma das pessoas que mais respeito em Portugal, devido à sua persistência para conseguir levar o graff mais além. Nos últimos anos tem aperfeiçoado o seu trabalho de maneira incrível e isso motiva as pessoas, ver as coisas a ganhar proporções. O Oker é mais um dos writers que se estivesse lá fora, faria coisas fantásticas, tem uma imensa criatividade e isso vê-se nas suas obras. Por todas estas razões tenho todo o gosto em fazer parte de algo junto com eles, sabendo que são pessoas que sabem o que fazem, e que não vão fazer nada que ponha em causa o respeito pelo graffiti.
Sobredotado: Alguma situação caricata que tenhas passado enquanto pintavas?
Dexa: Depois de 11 anos a pintar na rua posso dizer que aconteceu um pouco de tudo, desde o mais estranho ao mais ridículo, não é fácil contar algo caricato pois só estando na situação se consegue perceber e viver o momento, mas entre verdadeiras maratonas, horas escondidas num arbusto qualquer, levar com baldes de água, pratos e copos, já aconteceu de tudo e mais alguma coisa.
Sobredotado: Além de writer, és tatuador. Como surgiu o interesse pela arte da tatuagem?
Dexa: A tatuagem surgiu simplesmente pela curiosidade de experimentar, é uma coisa à parte do graffiti, e algo que gosto de fazer, ajuda-me de certa forma, pois obriga-me a desenhar mais.
Sobredotado: Usas conceitos que adquiris-te no graffiti nas tuas tatuagens?
Dexa: Sim claro, o graffiti está sempre presente em tudo o que faço, apesar das tatuagens por si já terem um estilo, tento mudá-las à minha maneira para terem um toque pessoal.
Sobredotado: O que pretendes no futuro?
Dexa: Pretendo evoluir muito mais, pintar em lugares que adorava, conhecer pessoas que acho que valem a pena, ver o graffiti a ficar cada vez mais forte, ver novos writers aparecer e novas ideias a surgir.
Sobredotado: Algumas últimas palavras que queiras deixar?
Dexa: Quero agradecer ao Sobredotado por ter demonstrado interesse no meu trabalho, e não podendo ficar por dizer que são sites como este que o país precisa, sites que dêem a conhecer às pessoas o que elas não vêem. Obrigado à minha namorada por me acompanhar, obrigado a toda a gente que me apoia, e a quem se esforça por manter o graffiti vivo e um abraço para todo o resto do pessoal