22 de abril de 2013

MIGUEL JANUÁRIO - GRAFFITI - PORTUGAL




maismenos ±’ surge em 2005 como um projecto pessoal desenvolvido num contexto de investigação académica. Rapidamente se tornou uma referência nos círculos portugueses de intervenção urbana, tanto pelos seus mecanismos virais, como pelos diversos suportes em que se materializa. Apresentou-se, inicialmente, como uma marca contra as marca, sendo a sua missão utópico o antídoto para a publicidade: pode ser encontrado como uma marca ilegal em numerosos ambientes urbanos, como pode emergir como uma instalação artística. ± é a representação visual do colapso dos sistemas económicos (+ – = 0), transmitindo claramente um ponto de vista relativamente a estes – ao mesmo tempo funcionando como uma tela em branco, como um ícon em aberto onde as pessoas conseguem projectar os seus desejos, medos ou suspeitas


 










































VERMELHO DE SANGUE, VERDE DE ESPERANÇA
 





































































nem mais nem menos















































































































De óculos escuros, calções cinzentos e pala na cabeça, Mais Menos – chamemos-lhe assim – subiu a escadaria da Assembleia da República com um saco de golfe na mão. No calcanhar dos ténis brancos podia ver-se o seu símbolo (±) gravado a preto. O sinal matemático, habitualmente usado para um número que pode ser tanto positivo como negativo, também pode ser adaptado ao estado do país, explicar-nos-ia o artista mais tarde. “Portugal está mais ou menos. É o país dos que têm mais e têm menos.” Depois de um lance de degraus, Mais Menos pousou o saco de tacos em frente a dois guardas fardados que o olhavam imóveis. “Funcionam como bibelôs da Assembleia”, diz o designer do Porto.

“Não podem sair dali nem fazer nada. Só chamar a segurança.” Olhando ao redor como se estivesse num campo verdejante, tirou um pão do bolso dos calções e pô-lo no passeio. Com uma tacada, lançou a carcaça escadas acima e pôs a mão na testa como se contemplasse a jogada. Poucas horas depois, José Sócrates demitia-se do cargo de primeiro-ministro, ao mesmo tempo que o vídeo do episódio começava a circular no Facebook. “Tornou-se viral”, conta Mais Menos. “No Vimeo teve mais de 20 mil visualizações e no Facebook qualquer coisa como 4 mil partilhas.” A inspiração para a brincadeira a que Mais Menos chamou “Ego sum panis vivus” (“Eu sou o pão da vida”) foi o anúncio da redução do IVA para o golfe (6% de imposto, em vez dos 23% actuais). “Mas também teria funcionado no parlamento da Grécia, por exemplo”, explica o artista. “É uma observação ao sistema oligárquico versus as necessidades das pessoas. Continuamos a viver essa separação gigantesca.”

PRÉDIOS PARA CHINESES Mais Menos fala de si próprio como muitos jogadores de futebol, na terceira pessoa. Apesar de ter aparecido no vídeo do golfe não gosta de se identificar e não dá a cara. “É para dar mais força ao projecto. Também faço vídeo, graffiti e design e isto é o outro lado da moeda. É um modo de exorcizar a minha vida de designer.” Em 2005 teve a ideia de criar o Mais Menos como trabalho de final de curso de Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes, no Porto. “O objectivo era criar uma marca antimarcas. Encontrei no ± uma representação gráfica da sociedade que o mercado constrói, onde uns têm mais e outros menos. E o mais importante é que ± é igual a zero, o que representa a anulação desse sistema de comunicação.”

Na primeira fase do projecto, Mais Menos pintou o seu símbolo pelas paredes do Porto. “Passava noites inteiras a colar cartazes em várias zonas da cidade. O objectivo era torná-lo tão chato e viral como uma marca. Foi uma grande invasão no Porto, que durou dois meses.” Vários jornais da cidade revelaram na altura o autor do símbolo, um finalista de Belas Artes: “Não pertence a uma associação nazi, nem a uma seita religiosa, nem a um grupo anarca. Não é ladrão nem chinês”, lia-se no “Jornal de Notícias”. “Havia gente que dizia que ± era uma marca que os chineses faziam em prédios devolutos para abrirem lojas”, conta o designer. Chegou a esta conclusão porque uma das fases do projecto consistiu em fazer inquéritos anónimos na rua. “Perguntava às pessoas se reparavam em marcas e publicidade e 70% falaram-me do ±. A partir daí continuava o inquérito para perceber o que é que o símbolo suscitava.”




NA RUA E EM GALERIAS Depois de acabar o curso, continuou com trabalhos de intervenção artística na rua. Frases como “É uma casa portuguesa sem certeza”, “Pague leve levemente”, “Ter ou não ser” ou “Penso mas não existo” começaram a aparecer no Porto e mais tarde em Lisboa para onde o artista se mudou em 2009. “Procurei também materializar essas ideias em alguns objectos para galerias.” Notas onde se pode ler “Yes, we cash” e carrinhos de supermercado em forma do símbolo mais – “que simboliza o consumo cada vez maior e a vontade de ter e comprar mais” – são alguns exemplos. O carrinho, bem como uma arma que é um spray de tinta, esteve em Dezembro na exposição Underdogs, na galeria Vera Cortês. “O [artista] Vhils convidou-me para fazer parte do projecto [de arte urbana]."

GERAÇÃO À RASCA Mas o grande salto do projecto Mais Menos aconteceu depois de o artista decidir juntar-se à manifestação da geração à rasca, a 12 de Março. “ Fiz a proposta de uma nova bandeira para o país, muito mais realista”, conta. Substituiu a esfera armilar da bandeira pelo seu símbolo para representar o “estado em que se encontra o país: mais ou menos”. Na manifestação várias pessoas ficaram curiosas com a bandeira que apareceu em muitas reportagens. “Perguntavam-me o que é que eu queria dizer com aquilo. Um velhote até me disse que era a melhor bandeira que tinha visto.

O movimento foi muito interessante. Pena é que no dia seguinte as coisas continuassem na mesma.” Nas eleições para a presidência da república, Mais Menos levou o seu boletim de voto para a rua, colou-o num caixote do lixo e no lugar da cara dos candidatos colou o seu símbolo. O vídeo pode ser visto no site maismenos.net, bem como outro – “O voto é sempre nulo” – nas eleições para o Parlamento Europeu, onde colou o boletim de maneira a ser impossível abri-lo. Desde a intervenção do golfe que tem recebido e-mails de pessoas interessadas no projecto. “Dão-me força, pedem--me autocolantes para espalhar pela cidade e perguntam-me se podem participar na próxima acção.”Mas Mais Menos ainda não sabe quando vai ser. “Agora é um bom período para ter ideias.”
ENTREVISTA POR CLARA SILVA





www.maismenos.net

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mais.menos@gmail.com