Graduou-se em Comunicação pela Universidade Anhembi-Morumbi (1975), em São Paulo. Fotografa desde 1972 e foi fotógrafo dos jornais Estado de São Paulo e Jornal da Tarde (1977 – 1979). Desenvolve trabalho de expressão pessoal em fotografia e desde 1977 trabalha com Polaroid, compondo um amplo ensaio pessoal denominado Jardim Secreto. Dentre suas principais exposições, destacam-se o 2º Colóquio Internacional de Fotografia, Havana, Cuba, 1989; Polaroids, Galeria Fotoptica, São Paulo, 1991; SX-70, Galeria Vermelho, São Paulo, 1991; Notações e Insntantâneas, Galeria Lurixs, Rio de Janeiro, 2004.
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Projeto Decanos | 1995 – 2005 – 2015
texto Fernando Costa Netto
O início do projeto Decanos foi concebido em 1995. Há 20 anos, reunimos para as páginas da extinta revista Boom uma reportagem com 20 personagens que ascendiam profissionalmente e agregavam charme e conteúdo à cena paulistana. Esta homenagem seria replicada 10 anos depois em outra publicação, a revista 2005. Àquela época, neste segundo ato, as fotos de Armando Prado já deixavam o plano efêmero e editorial para se tornarem um projeto em construção que ia além de um olhar sobre a casta cultural de São Paulo. Em 2015, 20 anos após a primeira sessão de fotos, a exposição Decanos entra no terceiro round e ganha um corpo muito interessante, que escancara a passagem do tempo sobre nós. Três épocas colocadas lado a lado conversam visual e nostalgicamente sobre o passado e o presente, sobre a juventude que ficou para trás, sobre o jeito de se vestir, sobre o penteado, as tatuagens, o impacto de duas décadas sobre nós. Dos 20 convidados em 1995, quatro desapareceram nos 10 anos que antecederam a segunda sessão de fotos. Não foram encontrados, não puderam ser localizados ou abandonaram o projeto. Outro, o fotógrafo David Zingg, faleceu em 2000 e, mais recentemente, em 2013, o músico Alberto Marsicano também nos pegou de surpresa e agora encanta o cosmo com sua cítara indiana.
O projeto Decanos entra em 2015 sob a forma de um trabalho cronológico e nunca antes realizado pela fotografia brasileira. É um encontro por década que materializa um estudo sócioantropológico ou estético-filosófico sobre quem éramos. Uma bela lembrança das nossas vidas, um trabalho para a posteridade, que, a cada ato, ganha mais força e novos significados.
Em 2025, esperamos reunir todos novamente para a quarta temporada. Cuidem bem da saúde para que isso possa acontecer! Nesses 20 anos, prosperamos.
Jac Leirner, 53, artista plástica.
[1995] Sua droga favorita era pensar. Adorava o trabalho, os doces e o cigarro.
[2005] “Adoro estar com meu filho, Marcelo, e crescer com ele. Continuo amando doces e cigarros, mas com muita resistência. Eu quero largar os dois. Pensar continua sendo minha droga predileta, mas o amor transcende mais do que o pensar. Amadureci, virei mãe, percebo o mundo com menos encantamento e vejo que o buraco é mais embaixo.”
[2015] “Daqui a 10 anos espero estar em movimento e em transformação, tentando tornar meu entorno mais leve e fresquinho.” Jac é amor à primeira vista, um exocet das artes. Representa o país nas principais coleções de arte contemporânea no Brasil e no mundo e em grandes museus como MoMA e Guggenheim.
Alex Atala, 46, chef, Cristiana Monaco, 47, diretora de arte, e Pedro, estudante.
[1995] Alex Atala ainda era o Alê, havia retornado da Europa e dava os primeiros passos na cozinha do restaurante que ele havia acabado de inaugurar, o Sushi & Pasta, em sociedade com a ex-mulher Cristiana Monaco, ótima cozinheira. Pedro tinha nascido semanas antes. O sonho do Alê era comprar um barco, morar perto do mar e dar uma vida saudável para Pedro.
[2005] Pedro surpreende a mãe ao se tornar um garoto superligado em música. Aos 10 anos tocava guitarra e já tinha até uma banda. Alê virou Alex. Casou-se novamente e teve mais dois filhos, os gêmeos Tomás e Joana, de dois anos. É um dos chefes de cozinha mais importantes do país. Abriu o restaurante D.O.M., em São Paulo, e apresenta o programa “Mesa para Dois”, no canal GNT. “Não imaginava esse sucesso profissional. Trabalhei muito, mas há 10 anos nem passava pela minha cabeça onde iria chegar.” “Sonho com um barco e em morar na praia. Já não sei quando isso vai acontecer, mas é bom ter sempre isso em mente.” Para Cris, o que mudou foi a percepção do tempo. “Hoje eu não penso mais no que será daqui a 10 anos, e sim, no próximo minuto. O que eu quero é viver bem para chegar daqui a 10, 20, 30 anos de bem com o meu tempo.”
[2015] Quero chegar lá com sabedoria para compartilhar e mais tempo livre para criar. [Cris]
Alex estava sem comunicação, em viiagem pelo interior da Amazonia pescando, pesquisando raízes, frutos e temperos. [NR]
Alaor Vieira, 59, engenheiro elétrico, produtor técnico de áudio e luz e barman.
[1995] Era uma das 15 pessoas no mundo que tinham o rosto tatuado.
[2005] Afirmava que não estava preocupado com a quantidade de tatuagens, que esse era um pensamento ocidental e que não poderia fazer a foto em 2015 porque iria desencarnar em breve.
[2015] Alaor, esse cara tão especial, segue no projeto e faz parte do terceiro ato. “Mergulhei na Ufologia e fiz vários contatos. Passaria muito tempo para explicar a relatividade do meu tempo com a vida. Mas o tempo que me foi estabelecido ficar por aqui não seriam 5 anos terrestres. Até eu fico confuso com o tempo de desencarne ou de teletransportagem.” Diz que nada lhe foi dito, mas que as novas coordenadas mostram que há muita coisa ainda a ser realizada, muitas pesquisas, estudos e obtenção de novas tecnologias. “Tenho muitos trabalhos nessa área. Me refiro ao campo mais encantado, independentemente da obra terrena e da sobrevivência.”
kowa, 60, músico.
[1995] Era o homem de frente da banda Skowa e a Máfia. Tocava de tudo, “era um especialista em generalidades.” Skowa colecionava Kinder Ovo e gibis.
[2005] Fazia parte do Trio Mocotó, grupo que tinha mais de 30 anos de estrada e foi um dos pais do samba rock, ao lado de Jorge Benjor. “Sou um cara mais tranquilo. Hoje quero paz. Em 10 anos, se estiver todo mundo aqui, quero estar tocando com eles. Vou estar com 60; a turma vai estar com 80. Sei lá, talvez eu entre no Demônios da Garoa.”
[2015] “Me candidato aos Rolling Stones ou ao Abba. E estou contente por agora estar realmente sexy. Sexy e agenário. Um envelhescente irresponsável no caminho do útero cósmico, mamando no peito e à espera da fralda geriátrica… Me aguarde, Benjamin Button!”
João Pedrosa, 56, colecionador.
[1995] Frequentava os clubes Massivo, ChaChaCha e Columbia e vestia antes o que ia ser o máximo no ano seguinte.
[2005] Saía pouco à noite, ao D-Edge, Pix ou Level. “Tudo mudou. Não bebo mais, acredita?” No domingo ia às feiras de antiguidade do Masp e do Bixiga. Ficou casado por 8 anos. “Mas, como todo casamento, terminou.”
“Daqui a 10 anos meu objetivo é ser feliz sozinho, que é a condição fundamental para se casar.”
[2015] Atualmente dedica-se ao colecionismo. E prefere não falar sobre o futuro.
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