Mr.Dheo esteve sempre ligado à Arte. Aos três anos de idade começou a copiar frases de jornais e revistas e a desenhar sozinho. Rejeitando sempre qualquer tipo de envolvência a uma escola ou curso de Arte durante a adolescência desenvolveu as suas próprias técnicas, o que lhe permitiu registar uma evolução sem influências directas.
Como autodidacta, o seu primeiro contacto com o graffiti surgiu aos quinze anos e rapidamente os seus desenhos se transformaram em inúmeros estudos de letras. Meses mais tarde fez o primeiro trabalho na rua e foi conhecendo outros artistas com os quais se identificava e que o motivavam a continuar.
Hoje – depois de dez anos de trabalho contínuo – Mr.Dheo colabora com conhecidas marcas e empresas internacionais apesar de eleger a rua como o local perfeito para criar. Versátil, dedica-se sobretudo a produções foto realistas que, conjugadas com componentes gráficas, lhe conferem um estilo próprio em constante crescimento e desenvolvimento.
Yellow burn
Sobredotado: Quem é o Mr. Dheo?
Mr. Dheo: Uma pessoa normal, com 24 anos, artista plástico com uma inclinação muito acentuada para o graffiti.
Sobredotado: Porquê Mr. Dheo?
Mr. Dheo: Não há uma razão especial para o nome. "Dheo" surgiu em 2001 quando tentei criar um pseudónimo composto por 4 letras com as quais me identificasse e que fossem boas em termos caligráficos, que é a base do graffiti. O "Mr." surgiu uns anos depois através de uma brincadeira de amigos e acabou por ficar, talvez para tornar o nome ainda menos comum no mundo do graffiti e, dentro dos possíveis, mais fácil de ficar memorizado.
Sobredotado: O que é para ti arte e graffiti? São conceitos que andam juntos?
Mr. Dheo: Sem dúvida. Tenho tanta certeza de que o que faço é graffiti como certeza de que o que faço é Arte. Agora o que para mim é preto no branco para os outros pode não ser, e aqueles que definem o conceito de Arte e ditam as suas regras - muitas das vezes são aqueles que nunca tiveram a capacidade de fazer o que quer que seja e então dedicaram-se a esse caminho - dificilmente irão catalogar o graffiti como Arte porque para já não lhes enche os bolsos, porque a sua essência é "gratuita", está na rua visível para tudo e todos. O mundo da Arte é um mundo preconceituoso e sobretudo elitista. Mas como em tudo as sociedades regem-se pelos padrões que lhes são impostos e até as coisas mudarem a nosso favor, muita coisa tem de acontecer. Agora pessoalmente podem tentar provar-me de todas as formas que conseguirem que graffiti não é Arte que nunca me irão convencer disso.
Sobredotado: Tens algum tipo de formação que te permitiu explorar a arte que elaboras?
Mr. Dheo: Não, nunca tive, por opção própria. Posso afirmar que sou auto-didata em termos artísticos, quer no graffiti como nas outras áreas que vou explorando.
Sobredotado: Como te introduziste na área do graffiti?
Mr. Dheo: Descobri o graffiti com 15 anos. Desde muito novo que tinha o hábito de desenhar mas sinceramente nunca me tinha sentido tentado a pintar a óleo ou a acrílico, ou a explorar outras formas que me "obrigassem" a encarar esse hobby de uma forma mais sólida e mais séria. Só que o graffiti é diferente de tudo, tem uma magia que as outras áreas, para mim, não tem. E acho que percebi isso de imediato, senti uma grande identificação e vontade de experimentar. Fi-lo sozinho e mantive-me assim uns tempos, à medida que me ia integrando cada vez mais no meio e ia conhecendo outros artistas, ia evoluindo e aumentando o meu vício.
Sobredotado: À quanto tempo pintas?
Mr. Dheo: Pinto desde o verão de 2000. Faz este ano uma década.
Sobredotado: Quais são as tuas influencias? E qual o teu estilo de graffiti preferido?
Mr. Dheo: Confesso que sou muito esquisito e exigente comigo próprio e com o que faço, mas sou muito ecléctico no que respeita o trabalho dos outros. Gosto de muitos artistas e de muitos estilos, a maior parte deles com abordagens que nem tem nada a ver com a minha, mas como é óbvio também não gosto de tudo.
Não sinto que tenha influências directas, sinceramente. Mesmo nos primeiros anos onde se tenta encontrar um estilo próprio, uma identidade, não há nenhum artista em que eu me tenha inspirado particularmente. Talvez, como referi, por gostar de muita coisa.
Ultimamente o meu trabalho é mais foto realista e isso, apesar de eu não querer que seja um rótulo porque automaticamente me torna num artista mais limitado, é muito cativante pela dificuldade que representa para mim. Acho que até à data é a abordagem mais complexa e que requer mais estudo, a abordagem onde as falhas são mais visíveis, e esse desafio agrada-me porque se algum dia sentir que as coisas são fáceis de fazer acho que perderá metade da piada.
Sobredotado: As abusadas peças que pintas são algo que te saem no momento ou prepara-las em casa?
Mr. Dheo: Faz-me alguma confusão ler essa pergunta com o "abusadas" incluído! Mas de qualquer das formas (e agradecendo o elogio), é uma mistura das duas. Quando pinto foto realismo principalmente, tenho de preparar a base em casa. Mas é quase sempre 50% do trabalho porque gosto que os outros 50% surjam no momento da pintura. Acho que torna todo o processo mais valioso para mim e mais marcante também, e assim consigo privilegiar o improviso porque é algo de que gosto bastante.
Sobredotado: Qual é para ti o ponto de situação do graffiti em Portugal?
Mr. Dheo: O graffiti é o reflexo da nossa sociedade, no sentido em que fazer o mínimo é suficiente. Há pouca ambição para a qualidade que existe, pouco esforço e pouca iniciativa. Temos bons artistas mas são muito poucos aqueles que realmente tentam elevar a fasquia, na minha opinião. E é aí que perdemos comparativamente a outros países, é aí que estagnamos e não evoluimos como seria suposto para estarmos ao nível do que se faz lá fora. Cá fazer uma boa produção em cada dois meses, principalmente se for elogiada, chega para se estar no auge, mas nesse espaço de tempo fazem-se 30 em Espanha, na Alemanha ou na França.
Não quero parecer demasiado crítico porque repito que existe qualidade, temos writers que são realmente bons e que fazem trabalhos com muito valor, mas falta-nos o resto e acho que é nisso que temos que nos esforçar.
Sobredotado: O que te motiva para continuar?
Mr. Dheo: Duas coisas: o gosto pelo que faço e a vontade de testar os meus limites, de aprender e de evoluir. Acho que num meio como o graffiti quem não tiver estes dois ingredientes não tem grandes hipóteses, porque por muito difícil que seja para quem está de fora compreender isto, o graffiti é um jogo duro. É preciso ter estofo e saber lidar com muita coisa, com muitos obstáculos, com muita competição, com más experiências, com muitas consequências...e é por isso que hoje começam 100 miúdos a pintar e daqui a 10 anos, desses 100, sobram 5.
Sobredotado: A tua identidade é algum segredo?
Mr. Dheo: Não é um segredo, já dei a cara em diversas situações...mas procuro não estar demasiado exposto. Pessoalmente não sou adepto de ter um hi5 com dezenas de fotos minhas por exemplo, nunca tive, não é o meu estilo. E adopto a mesma postura no graffiti porque não me interessa publicitar-me a mim mesmo se aquilo que eu quero que seja visto é o meu trabalho. Este foi um dos motivos que me levou a construir o conceito do "Homem sem rosto", e de forma surpreendente o feedback foi tão positivo que quis manter este "jogo" até agora. Não vou dizer que não me agrada que exista alguma curiosidade à minha volta porque isso torna as coisas mais engraçadas...mas não fujo, não me escondo, estou presente em alguns eventos, acabo por dar a cara como referi, por isso quem quiser saber quem eu sou tem sempre forma de o saber.
Sobredotado: Alguma situação caricata que tenhas passado enquanto pintavas?
Mr. Dheo: Demasiadas...o facto de o graffiti ser na rua é meia resposta...basta pensar que lidamos com todo o tipo de gente e que estamos sujeitos a tudo e mais alguma coisa. Mas acho que comparando com o passado hoje está tudo mais tranquilo e a experiência também faz com que lidemos de uma forma diferente com as coisas pouco comuns que vão acontecendo.
Sobredotado: Qual a tua lata e cor preferida nas peças que desenvolves?
Mr. Dheo: O preto. Não que seja a minha cor preferida, mas é a que mais utilizo e a que considero mais importante nas minhas peças.
Sobredotado: Destacas-te pelo graffiti. Sei que tentas explorar novas artes, como o design gráfico, fotografia e ilustração. Algum outro tipo de arte que queiras ainda explorar?
Mr. Dheo: O design gráfico e a ilustração exploro há quase tantos anos como o graffiti, mas em menor escala. São coisas que gosto bastante de fazer e que não quero deixar morrer, por isso vou tentando, dentro dos possíveis, estar activo. Já a fotografia é diferente...é uma área da qual gosto até porque como referi muito do meu trabalho é com base em registos fotográficos, mas honestamente em termos técnicos sei mesmo muito pouco. Acredito que tenha algum sentido de oportunidade e de enquadramento mas é apenas isso.
Quanto a explorar coisas novas, sou uma pessoa de riscos, não tenho grandes problemas em assumir as minhas tentativas mesmo com 50% de certeza que possam não correr como deveriam. Nesse sentido, já fiz várias coisas que fogem um pouco a essas áreas que referi, como por exemplo intervenções que entram mais no campo da escultura.
O grande problema é que se te dedicas em demasia a várias coisas começas a perder o comboio em algumas delas, e não quero que isso me aconteça com o graffiti. É sem dúvida a área que mais pesquiso e estudo, a área onde acredito ter mais conhecimento e experiência e a área onde me sinto 100% realizado, e o graffiti por si só já me ocupa quase todo o tempo por isso acabo por ter de deixar tudo o resto para segundo plano.
Sobredotado: Qual o conselho que darias aos novos writers que estão agora a começar?
Mr. Dheo: O graffiti exige muito mais do que jeito para o desenho. É um teste contínuo a muitas outras coisas, principalmente a nível psicológico, que alguns saberão contornar e outros não, e isso é que define os que ficam dos que saem. Acho que acima de tudo é necessário perceber o que está para trás, saber a história, os que fizeram essa história, os que continuam a fazê-la, e respeitar tudo isso. Sempre que me fazem essa pergunta lembro-me da forma como via os que já cá estavam quando comecei, e sinto que hoje em dia é tudo diferente, o que me deixa triste e algo revoltado com tantas diferenças em apenas dez anos. É importante estar sempre consciente do patamar que ocupamos, do que existe à nossa volta, do que os outros artistas fizeram e fazem comparativamente ao que nós somos capazes de fazer. Isso vai evitar a subida dos egos, vai fazer com que o respeito se mantenha, vai fazer com que esta competição seja saudável e de certa forma hierárquica, porque isso do meu ponto de vista é essencial. É fácil hoje publicitarmo-nos a nós próprios na internet e de um dia para o outro sentirmos que somos bons e sentirmos que podemos falar o que quisermos com toda a confiança, mas o mundo virtual é bem diferente do mundo real, e esse é que importa.
Mr. Dheo: Essa é a pergunta clássica com resposta clássica. Conseguir atingir estabilidade a todos os níveis, ao lado da pessoa certa, sem que falte o essencial. No graffiti continuar o mais activo possível porque é um meio onde se paras dificilmente és lembrado, ambicionando cada vez mais e trabalhando cada vez mais para ser melhor e mais completo.
Sobredotado: Tens algum projecto em mente que nunca tenhas feito por não surgir oportunidade ou material?
Mr. Dheo: Este foi o pior início de ano de sempre mas sou supersticioso nestas alturas e acredito que uma fase difícil possa ser um sinal de que algo de bom poderá surgir brevemente. Um dos projectos que esperava há muitos anos pode acontecer nos primeiros meses deste ano...é esperar para ver. De resto tenho sempre projectos em mente. Muitos deles não foram feitos ainda por falta de oportunidade, outros por falta de dinheiro, outros por falta de tempo...mas eles existem e algum dia irão ser concretizados.
Sobredotado: Para finalizar, algumas últimas palavras que queiras deixar?
Mr. Dheo: Muito obrigado ao Sobredotado pelo interesse em me entrevistar e por já ter divulgado o meu trabalho anteriormente (sim, eu vi, e agradeço!) e aproveito para desejar a todos os que por aqui passam um excelente 2010.
Black & White" Project - 2011
MrDheo & Oker
Convidado para participar na Bienal de Muralismo e Arte Pública, o "graffiter" escolheu um tema relacionado com o local que lhe foi atribuído: um estádio.
“Achei que seria interessante criar uma obra com a qual os locais se identificassem e com a qual sentissem uma proximidade diferente. Como adepto do FC Porto e admirador do Falcao, senti que seria ideal representá-lo. Recorri às cores nacionais da Colômbia, tendo em conta que ele é, actualmente, o maior embaixador do país e um verdadeiro ídolo dos colombianos”, explica Mr. Dheo, ao P3.
Radamel Falcao não ficou indiferente e partilhou o trabalho de Mr. Dheo nas suas páginas oficiais de Facebook e Twitter. “Vejam, arte de rua para vocês! Eu adorei, muito obrigado! Os meus cumprimentos ao artista!”, escreveu o avançado nas suas páginas nestas redes sociais.
Mr. Dheo mostra-se surpreendido com a reacção do futebolista. “O facto de o próprio Falcao ter colocado a obra como imagem principal das suas redes sociais oficiais e todo o interesse mediático que existiu sobre mim” foi algo que não imaginava, quando fiz este trabalho”, gar
Para além do eco na comunicação social, este trabalho valeu ao portuense um encontro com Rodrigo Guerrero, Alcaide de Cali, que o quis conhecer pessoalmente. "Em poucos dias todos os noticiários televisivos e todos os jornais na Colômbia falavam disso, o Presidente do Município de Cali quis conhecer-me pessoalmente e fui abordado por muitas pessoas na rua. Aconteceu-me até em Bogotá, onde fiz escala quando regressei a Portugal".
Como autodidacta, o seu primeiro contacto com o graffiti surgiu aos quinze anos e rapidamente os seus desenhos se transformaram em inúmeros estudos de letras. Meses mais tarde fez o primeiro trabalho na rua e foi conhecendo outros artistas com os quais se identificava e que o motivavam a continuar.
Hoje – depois de dez anos de trabalho contínuo – Mr.Dheo colabora com conhecidas marcas e empresas internacionais apesar de eleger a rua como o local perfeito para criar. Versátil, dedica-se sobretudo a produções foto realistas que, conjugadas com componentes gráficas, lhe conferem um estilo próprio em constante crescimento e desenvolvimento.
Porto 2013
In 1713, " MrDheo XIV" and "Sofles V" invaded and conquered a yard, writing their names on a train.
History says that the King, angry with such an outrageous attitude, ordered his troops to find the two kids and publicly decapitate them in the city's main square.
"They could have robbed gold, dropped a bomb and killed inocent people or even violated a child, but this is a crime that our society cannot accept and deal with", he claimed.
However, and despite the King's and his troops effort, "MrDheo XIV" and "Sofles V" were never found.
History says that the King, angry with such an outrageous attitude, ordered his troops to find the two kids and publicly decapitate them in the city's main square.
"They could have robbed gold, dropped a bomb and killed inocent people or even violated a child, but this is a crime that our society cannot accept and deal with", he claimed.
However, and despite the King's and his troops effort, "MrDheo XIV" and "Sofles V" were never found.
MrDheo and Sofles at the Sliema beach in Malta #mrdheo #sofles —
The one and only King in my life: my father rocking Sliema City Council in Malta
The last and the main one in Malta to promote the Sliema Street Art Festival which will happen on the 28th, 29th and 30th of June. Back to Porto tomorrow, see you Malta in a couple of weeks!
Today in Malta
Wittenberg, Germany - 2013 @ Kura Wbmotion Kultur Verein
MrDheo "Last Ride II" - 2013
Mesk, MrDheo & Oker for Red Bull Collective Art 2013
"God is not a DJ" 2013
2013
This is the final artwork I did in Cali a few days ago. Falcao published it in his Twitter and Facebook and it went global but the source who first published the photo of the unfinished piece didn't mention the author's name. Neither the media nor the websites have posted the final artwork with "MrDheo" on it. So to all of you who showed your support please share it and make it happen. Original artworks must be credited! Thank you!
MrDheo, Sofles & Smug - "DOG" 2012
The last one in Paris...wall with Smug, Epok, Noe2, Brok & Seyb
Paris - 2012
Gigino" in Frankfurt, Germany
MrDheo & Sofles
MrDheo x Sofles
Sofles x MrDheo
Ocean of Dreams | Mykonos (Greece) | 2012
Eindhoven!
Copyright" 2012
Frankfurt 2012
Yellow burn
Sobredotado: Quem é o Mr. Dheo?
Mr. Dheo: Uma pessoa normal, com 24 anos, artista plástico com uma inclinação muito acentuada para o graffiti.
Sobredotado: Porquê Mr. Dheo?
Mr. Dheo: Não há uma razão especial para o nome. "Dheo" surgiu em 2001 quando tentei criar um pseudónimo composto por 4 letras com as quais me identificasse e que fossem boas em termos caligráficos, que é a base do graffiti. O "Mr." surgiu uns anos depois através de uma brincadeira de amigos e acabou por ficar, talvez para tornar o nome ainda menos comum no mundo do graffiti e, dentro dos possíveis, mais fácil de ficar memorizado.
Sobredotado: O que é para ti arte e graffiti? São conceitos que andam juntos?
Mr. Dheo: Sem dúvida. Tenho tanta certeza de que o que faço é graffiti como certeza de que o que faço é Arte. Agora o que para mim é preto no branco para os outros pode não ser, e aqueles que definem o conceito de Arte e ditam as suas regras - muitas das vezes são aqueles que nunca tiveram a capacidade de fazer o que quer que seja e então dedicaram-se a esse caminho - dificilmente irão catalogar o graffiti como Arte porque para já não lhes enche os bolsos, porque a sua essência é "gratuita", está na rua visível para tudo e todos. O mundo da Arte é um mundo preconceituoso e sobretudo elitista. Mas como em tudo as sociedades regem-se pelos padrões que lhes são impostos e até as coisas mudarem a nosso favor, muita coisa tem de acontecer. Agora pessoalmente podem tentar provar-me de todas as formas que conseguirem que graffiti não é Arte que nunca me irão convencer disso.
Sobredotado: Tens algum tipo de formação que te permitiu explorar a arte que elaboras?
Mr. Dheo: Não, nunca tive, por opção própria. Posso afirmar que sou auto-didata em termos artísticos, quer no graffiti como nas outras áreas que vou explorando.
Sobredotado: Como te introduziste na área do graffiti?
Mr. Dheo: Descobri o graffiti com 15 anos. Desde muito novo que tinha o hábito de desenhar mas sinceramente nunca me tinha sentido tentado a pintar a óleo ou a acrílico, ou a explorar outras formas que me "obrigassem" a encarar esse hobby de uma forma mais sólida e mais séria. Só que o graffiti é diferente de tudo, tem uma magia que as outras áreas, para mim, não tem. E acho que percebi isso de imediato, senti uma grande identificação e vontade de experimentar. Fi-lo sozinho e mantive-me assim uns tempos, à medida que me ia integrando cada vez mais no meio e ia conhecendo outros artistas, ia evoluindo e aumentando o meu vício.
Sobredotado: À quanto tempo pintas?
Mr. Dheo: Pinto desde o verão de 2000. Faz este ano uma década.
Sobredotado: Quais são as tuas influencias? E qual o teu estilo de graffiti preferido?
Mr. Dheo: Confesso que sou muito esquisito e exigente comigo próprio e com o que faço, mas sou muito ecléctico no que respeita o trabalho dos outros. Gosto de muitos artistas e de muitos estilos, a maior parte deles com abordagens que nem tem nada a ver com a minha, mas como é óbvio também não gosto de tudo.
Não sinto que tenha influências directas, sinceramente. Mesmo nos primeiros anos onde se tenta encontrar um estilo próprio, uma identidade, não há nenhum artista em que eu me tenha inspirado particularmente. Talvez, como referi, por gostar de muita coisa.
Ultimamente o meu trabalho é mais foto realista e isso, apesar de eu não querer que seja um rótulo porque automaticamente me torna num artista mais limitado, é muito cativante pela dificuldade que representa para mim. Acho que até à data é a abordagem mais complexa e que requer mais estudo, a abordagem onde as falhas são mais visíveis, e esse desafio agrada-me porque se algum dia sentir que as coisas são fáceis de fazer acho que perderá metade da piada.
Sobredotado: As abusadas peças que pintas são algo que te saem no momento ou prepara-las em casa?
Mr. Dheo: Faz-me alguma confusão ler essa pergunta com o "abusadas" incluído! Mas de qualquer das formas (e agradecendo o elogio), é uma mistura das duas. Quando pinto foto realismo principalmente, tenho de preparar a base em casa. Mas é quase sempre 50% do trabalho porque gosto que os outros 50% surjam no momento da pintura. Acho que torna todo o processo mais valioso para mim e mais marcante também, e assim consigo privilegiar o improviso porque é algo de que gosto bastante.
Sobredotado: Qual é para ti o ponto de situação do graffiti em Portugal?
Mr. Dheo: O graffiti é o reflexo da nossa sociedade, no sentido em que fazer o mínimo é suficiente. Há pouca ambição para a qualidade que existe, pouco esforço e pouca iniciativa. Temos bons artistas mas são muito poucos aqueles que realmente tentam elevar a fasquia, na minha opinião. E é aí que perdemos comparativamente a outros países, é aí que estagnamos e não evoluimos como seria suposto para estarmos ao nível do que se faz lá fora. Cá fazer uma boa produção em cada dois meses, principalmente se for elogiada, chega para se estar no auge, mas nesse espaço de tempo fazem-se 30 em Espanha, na Alemanha ou na França.
Não quero parecer demasiado crítico porque repito que existe qualidade, temos writers que são realmente bons e que fazem trabalhos com muito valor, mas falta-nos o resto e acho que é nisso que temos que nos esforçar.
Sobredotado: O que te motiva para continuar?
Mr. Dheo: Duas coisas: o gosto pelo que faço e a vontade de testar os meus limites, de aprender e de evoluir. Acho que num meio como o graffiti quem não tiver estes dois ingredientes não tem grandes hipóteses, porque por muito difícil que seja para quem está de fora compreender isto, o graffiti é um jogo duro. É preciso ter estofo e saber lidar com muita coisa, com muitos obstáculos, com muita competição, com más experiências, com muitas consequências...e é por isso que hoje começam 100 miúdos a pintar e daqui a 10 anos, desses 100, sobram 5.
Sobredotado: A tua identidade é algum segredo?
Mr. Dheo: Não é um segredo, já dei a cara em diversas situações...mas procuro não estar demasiado exposto. Pessoalmente não sou adepto de ter um hi5 com dezenas de fotos minhas por exemplo, nunca tive, não é o meu estilo. E adopto a mesma postura no graffiti porque não me interessa publicitar-me a mim mesmo se aquilo que eu quero que seja visto é o meu trabalho. Este foi um dos motivos que me levou a construir o conceito do "Homem sem rosto", e de forma surpreendente o feedback foi tão positivo que quis manter este "jogo" até agora. Não vou dizer que não me agrada que exista alguma curiosidade à minha volta porque isso torna as coisas mais engraçadas...mas não fujo, não me escondo, estou presente em alguns eventos, acabo por dar a cara como referi, por isso quem quiser saber quem eu sou tem sempre forma de o saber.
Sobredotado: Alguma situação caricata que tenhas passado enquanto pintavas?
Mr. Dheo: Demasiadas...o facto de o graffiti ser na rua é meia resposta...basta pensar que lidamos com todo o tipo de gente e que estamos sujeitos a tudo e mais alguma coisa. Mas acho que comparando com o passado hoje está tudo mais tranquilo e a experiência também faz com que lidemos de uma forma diferente com as coisas pouco comuns que vão acontecendo.
Sobredotado: Qual a tua lata e cor preferida nas peças que desenvolves?
Mr. Dheo: O preto. Não que seja a minha cor preferida, mas é a que mais utilizo e a que considero mais importante nas minhas peças.
Sobredotado: Destacas-te pelo graffiti. Sei que tentas explorar novas artes, como o design gráfico, fotografia e ilustração. Algum outro tipo de arte que queiras ainda explorar?
Mr. Dheo: O design gráfico e a ilustração exploro há quase tantos anos como o graffiti, mas em menor escala. São coisas que gosto bastante de fazer e que não quero deixar morrer, por isso vou tentando, dentro dos possíveis, estar activo. Já a fotografia é diferente...é uma área da qual gosto até porque como referi muito do meu trabalho é com base em registos fotográficos, mas honestamente em termos técnicos sei mesmo muito pouco. Acredito que tenha algum sentido de oportunidade e de enquadramento mas é apenas isso.
Quanto a explorar coisas novas, sou uma pessoa de riscos, não tenho grandes problemas em assumir as minhas tentativas mesmo com 50% de certeza que possam não correr como deveriam. Nesse sentido, já fiz várias coisas que fogem um pouco a essas áreas que referi, como por exemplo intervenções que entram mais no campo da escultura.
O grande problema é que se te dedicas em demasia a várias coisas começas a perder o comboio em algumas delas, e não quero que isso me aconteça com o graffiti. É sem dúvida a área que mais pesquiso e estudo, a área onde acredito ter mais conhecimento e experiência e a área onde me sinto 100% realizado, e o graffiti por si só já me ocupa quase todo o tempo por isso acabo por ter de deixar tudo o resto para segundo plano.
Sobredotado: Qual o conselho que darias aos novos writers que estão agora a começar?
Mr. Dheo: O graffiti exige muito mais do que jeito para o desenho. É um teste contínuo a muitas outras coisas, principalmente a nível psicológico, que alguns saberão contornar e outros não, e isso é que define os que ficam dos que saem. Acho que acima de tudo é necessário perceber o que está para trás, saber a história, os que fizeram essa história, os que continuam a fazê-la, e respeitar tudo isso. Sempre que me fazem essa pergunta lembro-me da forma como via os que já cá estavam quando comecei, e sinto que hoje em dia é tudo diferente, o que me deixa triste e algo revoltado com tantas diferenças em apenas dez anos. É importante estar sempre consciente do patamar que ocupamos, do que existe à nossa volta, do que os outros artistas fizeram e fazem comparativamente ao que nós somos capazes de fazer. Isso vai evitar a subida dos egos, vai fazer com que o respeito se mantenha, vai fazer com que esta competição seja saudável e de certa forma hierárquica, porque isso do meu ponto de vista é essencial. É fácil hoje publicitarmo-nos a nós próprios na internet e de um dia para o outro sentirmos que somos bons e sentirmos que podemos falar o que quisermos com toda a confiança, mas o mundo virtual é bem diferente do mundo real, e esse é que importa.
Sobredotado: O que pretendes no futuro?
Mr. Dheo: Essa é a pergunta clássica com resposta clássica. Conseguir atingir estabilidade a todos os níveis, ao lado da pessoa certa, sem que falte o essencial. No graffiti continuar o mais activo possível porque é um meio onde se paras dificilmente és lembrado, ambicionando cada vez mais e trabalhando cada vez mais para ser melhor e mais completo.
Sobredotado: Tens algum projecto em mente que nunca tenhas feito por não surgir oportunidade ou material?
Mr. Dheo: Este foi o pior início de ano de sempre mas sou supersticioso nestas alturas e acredito que uma fase difícil possa ser um sinal de que algo de bom poderá surgir brevemente. Um dos projectos que esperava há muitos anos pode acontecer nos primeiros meses deste ano...é esperar para ver. De resto tenho sempre projectos em mente. Muitos deles não foram feitos ainda por falta de oportunidade, outros por falta de dinheiro, outros por falta de tempo...mas eles existem e algum dia irão ser concretizados.
Sobredotado: Para finalizar, algumas últimas palavras que queiras deixar?
Mr. Dheo: Muito obrigado ao Sobredotado pelo interesse em me entrevistar e por já ter divulgado o meu trabalho anteriormente (sim, eu vi, e agradeço!) e aproveito para desejar a todos os que por aqui passam um excelente 2010.
DESIGN WARS @ Athens, Greece - 2012
DHEAU "Semente" 2012
YA PAME!" @ Athens
Style in Paris
Obrigado Dealema, DEAU, Mind da Gap, BARRAKO 27 e a todos os presentes. Valeu!
Lugo (Spain)
@ Lugo
La Rochelle (France)
2012
MrDheo & Oker
3h
paint today in Porto downtown for the Street Riff event. To see some customized
guitars and a live paint action by Draw, Fedor, Mesk and Oker, make sure you
visit Spray Music tomorrow from 12h to 19:30h (Rua Rui Barbosa 4, 4150-641
Porto)
Flying
to Wittenberg (Germany) in a couple of weeks with Pariz One and Oneart also representing Portugal.
Mr. Dheo marca um golo à FalcaoO artista português Mr. Dheo homenageou o futebolista colombiano com um
mural. Falcao elogiou o trabalho nas redes sociais
O graffiti foi feito no estádio Pascual Guerrero, em Cali, na Colômbia, e é
dedicado a Radamel Falcao, conhecido futebolista daquele país. Apesar disso,
trata-se de arte “made in Portugal”: o trabalho foi realizado pelo portuense Mr.
Dheo.Convidado para participar na Bienal de Muralismo e Arte Pública, o "graffiter" escolheu um tema relacionado com o local que lhe foi atribuído: um estádio.
“Achei que seria interessante criar uma obra com a qual os locais se identificassem e com a qual sentissem uma proximidade diferente. Como adepto do FC Porto e admirador do Falcao, senti que seria ideal representá-lo. Recorri às cores nacionais da Colômbia, tendo em conta que ele é, actualmente, o maior embaixador do país e um verdadeiro ídolo dos colombianos”, explica Mr. Dheo, ao P3.
Radamel Falcao não ficou indiferente e partilhou o trabalho de Mr. Dheo nas suas páginas oficiais de Facebook e Twitter. “Vejam, arte de rua para vocês! Eu adorei, muito obrigado! Os meus cumprimentos ao artista!”, escreveu o avançado nas suas páginas nestas redes sociais.
Mr. Dheo mostra-se surpreendido com a reacção do futebolista. “O facto de o próprio Falcao ter colocado a obra como imagem principal das suas redes sociais oficiais e todo o interesse mediático que existiu sobre mim” foi algo que não imaginava, quando fiz este trabalho”, gar
Para além do eco na comunicação social, este trabalho valeu ao portuense um encontro com Rodrigo Guerrero, Alcaide de Cali, que o quis conhecer pessoalmente. "Em poucos dias todos os noticiários televisivos e todos os jornais na Colômbia falavam disso, o Presidente do Município de Cali quis conhecer-me pessoalmente e fui abordado por muitas pessoas na rua. Aconteceu-me até em Bogotá, onde fiz escala quando regressei a Portugal".
My t-shirt line will be available by the end of October, in a limited (and numbered) edition of 50 shirts per model with an extreme high quality printing, available for men and women in S, M, L and XL sizes.
The t-shirts must be ordered until the next 30th September through mrdheonews@gmail.com with the following info: name, address, shirt model and size.
Price: 25€ + shipping costs.
...
.......................... .......................... .......................... .....
A minha linha de t-shirts estará disponível a partir do final de Outubro, numa edição limitada (e numerada) de 50 unidades de cada modelo em impressão de alta qualidade, disponível para homem e mulher nos tamanhos S, M, L e XL.
As t-shirts devem ser encomendadas até ao próximo dia 30 de Setembro através do e-mail mrdheonews@gmail.com com a seguinte informação: nome, morada, modelo pretendido e tamanho.
The t-shirts must be ordered until the next 30th September through mrdheonews@gmail.com with the following info: name, address, shirt model and size.
Price: 25€ + shipping costs.
...
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A minha linha de t-shirts estará disponível a partir do final de Outubro, numa edição limitada (e numerada) de 50 unidades de cada modelo em impressão de alta qualidade, disponível para homem e mulher nos tamanhos S, M, L e XL.
As t-shirts devem ser encomendadas até ao próximo dia 30 de Setembro através do e-mail mrdheonews@gmail.com com a seguinte informação: nome, morada, modelo pretendido e tamanho.
— com Mário Oker.
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